Identidade Urbana
Tons de Luta
“O meu pai é engenheiro, minha mãe é professora, meu irmão é designer, minha Irmã é produtora”, o que poderia ser uma paródia de “Paratodos”, de Chico Buarque é, na verdade, um pouco da história do artista plástico, Bruno Barbi. Embora ele seja o único profissional da arte na família, desde cedo, seus pais incentivaram ele e os irmãos a desenvolver ao máximo este aprendizado.
A música é algo presente no dia a dia de Bruno, o hardcore e o punk o fizeram integrante de bandas underground de Florianópolis, o samba, por sua vez, moldou sua visão do que é o Brasil. Novamente olhando a letra de “Paratodos”, Chico Buarque cita diversos compositores, intérpretes e instrumentistas brasileiros de diferentes ritmos e regiões. Entre eles fala de Cartola, um dos maiores nomes do samba, dono de uma poesia melancólica e posteriormente reinterpretado pela voz da madrinha do samba, Beth Carvalho.
E o que tem Cartola a ver com Bruno? É a influência dos negros e negras do samba que o fez aflorar à sensibilidade e a visão de mundo crítica ao racismo. É o respeito à história e ao protagonismo da negritude brasileira, que desenvolveu seu talento para as artes plásticas pintando rostos negros nas ruas do centro de uma capital que se acha branca. O trabalho de Barbi incomoda. Não são raros os relatos de pessoas questionando se há permissão, por exemplo, para pintar muros, caixas de luz, espaços cinzas que revivem a partir dos retratos de Bruno.
Se Chico Buarque cantou sobre os grandes artistas brasileiros, Barbi conta a história das pessoas normais que vivem o dia a dia, pagam contas, andam de ônibus, anônimos duas vezes: a primeira por não serem famosos, a segunda pela história cruel de um país que se envergonha da sua negritude. Um país que, no dia que simboliza a abolição da escravatura, glorifica a história da princesa branca, ao invés da luta preta. Está aí, mais um ponto em comum entre Bruno Barbi e a história da negritude, o 13 de maio é também o dia do seu nascimento.
A luta contra o racismo é de todo mundo, o lema guia a militância de um artista branco, que aprendeu com o movimento negro a reproduzir, não só os tons da pele, mas a verdade nos olhos de cada personagem recriado. Aprendeu também o seu lugar nessa luta, Bruno é um anônimo que traz pro holofote os homens e mulheres negras do cotidiano.
Foto: José Sergio
Foto: José Sergio
Foto: Luiz Felipe Kuczka
Foto: José Sergio
Foto: José Sergio
Foto: Luiz Felipe Kuczka